terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Educados até demais...

Tem gente que diz que os franceses são mal-educados. Eu não concordo muito não. Primeiro porque quando acontece de a gente topar com um mais “atravessado”,  acho que eles estão mais para mal-humorados e rabugentos, o que não é exatamente a mesma coisa. E segundo porque às vezes eles são tão, mas tão educadinhos e polidos, que acabam até criando situações um pouco estranhas para quem não tem os mesmos costumes.

Para explicar o que estou querendo dizer, vou ilustrar com dois casos reais o costume dos franceses de segurar a porta para os outros. Segurar a porta da entrada do prédio, da escada do trabalho, porta da farmácia, da padaria, e até da catraca do metrô. E como aqui a maioria das entradas de prédios/lojas tem duas portas, com aquele espaço "morto" no meio para isolar o frio, é porta que não acaba mais (e elas raramente são automáticas). Funciona mais ou menos assim: você acabou de entrar/sair de um lugar, tem alguém chegando logo em seguida para entrar/sair? Então você segura a porta gentilmente, espera a pessoa passar e ela diz “Merci!”. Simples, não?

(Imagem cortesia do Google!)

Pois começa a complicar com a noção do “logo em seguida”, que é um tanto subjetiva.  As vezes o (a) gentil francês (a) fica segurando a porta láááá no final do lance de escadas quando eu ainda tenho uns 8 degraus para descer, e aí acabo me sentindo na obrigação de acelerar o passo. E tem também algumas outras situações onde a gentileza é um pouco relativa, depende do ponto de vista.

O primeiro caso aconteceu comigo outro dia no trabalho. Eu estava descendo as escadas, indo para uma reunião, atrasada, com o laptop em uma mão e com o celular equilibrado entre a orelha e o ombro, falando com a minha chefe. Mas com uma mão livre, justamente para cuidar das portas da escada. Alguém segurou a porta para mim, eu passei e não disse merci. Por quê?, ó céus, por que eu não disse o bendito merci? Simplesmente porque eu estava tão compenetrada que só percebi que seguraram a porta para mim quando já tinha passado e ouvi o resmungo mal-humorado: “podia agradecer, né?!”. Bom. Parei, pedi licença para a chefe no telefone e pedi desculpa para a colega desconhecida, explicando que “désolée, não prestei atenção, estava concentrada”. (Embora o meu lado mal-humorado estivesse com vontade de dizer: “e eu por acaso pedi para você segurar a porta?!” hehehe)

A segunda situação foi ontem à noite, saindo da lavanderia. Eu abro a porta para sair, com a bolsa e a sacola da farmácia em uma mão, e 3 cabides com um terno e duas calças na outra. Tudo isso, é claro, devidamente equipada de cachecol, sobretudo e luvas, o que, convenhamos, não facilita muito a liberdade de movimentos. Empurro a porta do jeito que dá, saio e solto a porta do jeito que dá, bate aquele frio lá fora que vem gelar até a alma, e eu ainda sou obrigada a ouvir: “ei, mal-educada a mademoiselle, hein?! Podia segurar a porta, né?!”. Se ainda fosse um velhinho, eu relevava, mas ah!, por favor... um cara de uns 30 e poucos anos?! Perguntei se ele não queria um cafezinho também, mostrando as mãos todas bem ocupadas.

Só sei que educação demais às vezes cansa... (ou será que sou eu que estou ficando rabugenta?)

5 comentários:

Anna disse...

Hahaha, Fernanda, muito engraçados os seus casos reais!

Paula disse...

kkkkkkk. Também adorei e me senti na sua pele tendo que apressar o passo. Faço isto sempre!

Tati Fanti disse...

Adorei os casos reais,Fér...
Saudades...
Beijos,
Tati
http://comoagarrarummarido.blogspot.com/

Taciana disse...

Adorei os casos reais!

E é legal ver como é diferente a questão de cultura, porque esse negócio de abrir e segurar portas aqui está mais relacionado com o cavalheirismo... (que sim, está ficando mais raro)

Bjs, fér!

P disse...

Fernanda, acho que eu ia gostar desse excesso de educação...
Aqui em SP, no meu prédio, qdo alguém vê vc vindo, corre pro elevador disfarçando e entra rápido... fico p da vida...

Infelizmente, é da "cultura" (?) daqui...

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